O que é CLAQUE? E quem inventou as risadas das séries de comédia


Todo mundo já assistiu a alguma série de comédia na televisão que têm aquelas risadas gravadas e inseridas entre uma piada e outra, certo? “Chaves”, “Friends”, “How I Met Your Mother”, entre muitas outras que conhecemos, utilizam desse recurso, conhecido como claque.

Apesar de já estarmos bastante acostumadas às “risadas enlatadas”, não tem como negar que é um tanto quando esquisito nos dias de hoje, pois todo mundo sabe que não são risadas espontâneas e naturais. Há profissionais da área que criticam o seu uso por considerarem ser um insulto à inteligência do público.

Porém, temos que pensar em como era feita a televisão na época em que essas risadas foram criadas e o que a televisão significava nessa época.

Pense que, na década de 1950, se você quisesse ver um show de comédia, teria que ir a um teatro, sempre rodeado de outras pessoas e com direito a palmas e risadas, que eram “parte do pacote”. De repente, com o surgimento da televisão, uma tela enorme e pesada no meio da sala levava o espetáculo para dentro da sua casa. Que incrível, né?

Nos anos 50, as comédias de TV eram gravadas apenas com uma câmera e com uma plateia ao vivo. Isso significava que a mesma cena tinha que ser feita diversas vezes para a câmera poder gravar de ângulos diferentes. Ou seja, as reações do público acabavam ficando diferentes a cada take: ou as risadas eram no momento errado, ou ninguém ria na hora certa, ou eram muito longas ou breves demais, ou estridentes ou baixas. O resultado final acabava não ficando muito bom, e as risadas eram um importante instrumento para dar a sensação ao público de estarem assistindo ao show “ao vivo”.

Já que não dava para contar com os risos espontâneos, Charley Douglass, engenheiro de som que trabalhava na CBS no início da televisão, resolveu criar sua própria máquina de risadas.

The invention of laughter: Charley Douglass and the laff box - The Verge
A Laff Box, de Charley Douglass. Imagem: www.theverge.com/

Como engenheiro mecânico que havia trabalhado no radar da Marinha americana durante a 2ª Guerra Mundial, Douglass sabia mexer com aparelhos eletrônicos e som. Ele trabalhou com a ideia de apenas adicionar as risadas, provavelmente de um disco de transcrição, e criou uma máquina que poderia fazer isso. Ron Simon, curador de televisão e rádio do Paley Center for Media, antigo Museu de Televisão e Rádio, explicou que Douglass “criou esta caixinha usando risos de Marcel Marceau e de Red Skelton das sequências silenciosas e criou loops de fita que poderiam ser injetados em uma comédia de filme para torná-la uma experiência ao vivo”.

Noite após noite, o engenheiro se debruçava sobre essas risadas na mesa da cozinha, juntando-as em rolos de fita analógica que podiam ser tocados em um dispositivo patenteado que Douglass construiu sozinho com eletrodomésticos, peças de órgãos e tubos a vácuo. Foi um trabalho realmente manual, e o resultado foi um aparelho grande, rudimentar e pesado – mas que atingiu seu propósito. Chamado inicialmente de Audience Response Duplicator, acabou ficando conhecido como Laff Box, e tinha 320 tipos de risadas.

Ao longo dos anos 50, a forma de gravar as comédias de TV foi mudando: ao invés de serem feitas ao vivo em frente ao público em Nova York, passaram a ser gravas em estúdio em Hollywood. Porém, a ideia é que ainda parecessem que fossem ao vivo.

Mesmo com o avanço da tecnologia e das produções modernas que temos nos dias de hoje, as claques são usadas até hoje em diversas produções. “The Big Bang Theory”, sitcom de imenso sucesso, terminou em 2019 e ainda usava as tais “risadas enlatadas”.

Uma pesquisa realizada pela University College London, na Inglaterra, que contava com alguns participantes com autismo, indicou que a trilha de risadas, de fato, deixa a piada mais engraçada. É como se a risada artificial criasse um efeito manada, e todo mundo tem a mesma reação. Também funciona como uma espécie de aval, como quando a gente espera alguém rir primeiro para, então, saber que pode rir também. Apesar de antigo, o uso da claque é uma fórmula que faz sucesso.

Porém, como tudo tem a sua desvantagem, com a “risada enlatada” não seria diferente. Esse recurso só funciona quando o sitcom segue uma certa estrutura de roteiro, com diálogos e frases de efeito que são a “deixa” certa para o riso. Isso acaba engessando um pouco a produção.

Séries feitas nesse formato exigem o uso da claque, ou a cena fica bem estranha. Veja esse exemplo em “The Big Bang Theory”, onde as risadas artificiais foram retiradas propositalmente da cena:

Na década de 90, algumas séries começaram a ousar em não usar a claque, como “Dream On” (1990), e “The Larry Sanders Show” (1992). Mais recentemente, temos também “The Office”, “30 Rock”, “Brooklyn Nine-Nine”, entre outras.

A falta das risadas torna o roteiro muito mais livre, onde a piada se concentra no desenvolvimento do personagem e não mais na “deixa” certa da frase de efeito.

E você, o que acha das risadas artificiais em shows de comédia?

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