“Medida Provisória”: após boicotes e atrasos, filme de Lázaro Ramos estreia em 14 de abril


Atrasos, boicotes, polêmicas. Após vencer inúmeros obstáculos, “Medida Provisória”, primeiro filme dirigido por Lázaro Ramos, finalmente estreia nos cinemas nesse 14 de abril.

Baseado no obra teatral de Aldri Anunciação, o longa é um distopia que se passa num Brasil onde o Congresso Nacional adota uma medida provisória na tentativa de reparar os males causados aos negros na época da escravidão. Essa medida determina que os negros sejam despachados para a África, para se “reconectarem” com suas origens. A trama gira em torno do casal Capitú (Taís Araújo) e Antônio (Alfred Enoch), e do seu primo, André (Seu Jorge), que mora de favor no mesmo apartamento.

Apesar de ser uma ficção, podemos fazer diversos paralelos com a realidade do país nos dias de hoje.

Trailer Oficial

Gravado em 2019, “Medida Provisória” levou mais de um ano para ser liberado pela Ancine (Agência Nacional do Cinema) para entrar no circuito comercial dos cinemas, cujas trocas de e-mails começaram em novembro de 2020. À época, a Trigo Agência de Ideias, responsável pela assessoria do filme, anunciou que a obra seria exibida no Festival do Rio, em 15 de dezembro de 2021, porém ainda sem data para estreia no cinema:

“No entanto, também informamos que esta exibição será pontual, já que “Medida Provisória” segue impossibilitado de ter seu lançamento no Brasil apesar dos inúmeros recursos submetidos por suas produtoras e coprodutoras à Agência Nacional do Cinema (ANCINE) para que ele seja liberado em circuito comercial. Explicamos ainda que questões burocráticas seguem sem retorno conclusivo da agência desde novembro de 2020 – um ano antes de sua previsão inicial de estreia, que seria realizada no último mês de novembro.

Ao longo de mais de um ano foram trocados com a agência dezenas de e-mails, checados o recebimento e andamento de protocolos, bem como foram realizadas consultas processuais. Especificamente no dia 21/10/2021, a pouco mais de um mês da previsão de estreia inicial, foi ainda enviada uma carta com questionamento formal à ANCINE, via protocolo e copiando setores envolvidos nesta análise. O recebimento desta comunicação foi confirmado, mas não houve manifestação por partes de outros setores. Logo, mediante a não análise destes pedidos, comunicamos que o filme segue sem previsão de lançamento no Brasil.”

A Ancine, por sua vez, respondeu que “o filme “Medida Provisória” recebeu para a sua produção o valor total de R$ 2,7 milhões, por meio do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). O investimento em distribuição é uma opção do Fundo para aumento da sua rentabilidade, a ser decidido após conclusão da análise técnica. O projeto, portanto, segue o trâmite normal no âmbito da Agência”. Somente no dia 20 de dezembro de 2021, o longa recebeu liberação da agência para estrear nos cinemas de todo o país.

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Taís Araújo, Alfred Enoch e Seu Jorge, em cena do filme “Medida Provisória”

Ainda em março de 2021, o filme recebeu uma tentativa de boicote por parte de apoiadores do governo Bolsonaro. Na época, o então presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, postou em suas redes sociais que “o filme, bancado com recursos públicos, acusa o governo Bolsonaro de crime de racismo. Temos o dever moral de boicotá-lo nos cinemas. É pura lacração vitimista e ataque difamatório contra o nosso presidente”.

Em nota enviada ao UOL, Lázaro Ramos rebateu as críticas ao defender que a trama é baseada em uma obra de 2011, e que foram feitas poucas alterações no roteiro desde então. “Sobre o filme falar do governo atual, devo dizer que ele foi escrito em 2015 e filmado em 2019. Começou a ser concebido já no ano seguinte, em 2012. É um filme distópico assim como várias obras realizadas na última década, a exemplo de tantos como “Handmaid’s Tale” e “Black Mirror”. Qualquer comentário sobre o filme é feito em cima de suposições ou desejo de polêmica, pois ninguém assistiu a obra a não ser quem esteve nos festivais onde o filme foi exibido”, explicou o ator e cineasta.

Como se já não fosse o bastante, no início desse ano o longa sofreu diversas críticas de Eduardo Bolsonaro, o ex-secretário de Cultura, Mário Frias, e o ex-presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, após falas de Taís Araújo, em entrevista ao Splash, dizendo que os últimos quatro anos do governo Bolsonaro foram “infernais”.

Em resposta, Sérgio Camargo comentou em seu Twitter que “foram quatro anos gloriosos e tem mais quatro pela frente. Infernal era ter que sustentar artista com nosso suado dinheiro. Acabou! Vão trabalhar”.

Depois de tantas turbulências, “Medida Provisória” finalmente chegar aos cinemas em 2022. Conhecido por diversos personagens marcantes na sua carreira de ator, como Foguinho, na novela “Cobras e& Lagartos”, de 2006, e Roque Bahia, de “Ó, Pai ó”, de 2007, o público poderá acompanhar a primeira obra de Lázaro Ramos como diretor.

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