Edições e cortes: a censura da Disney+ no próprio conteúdo
Não é preciso ir muito longe nos anos para perceber que muitos filmes, séries e desenhos são bastante problemáticos na sociedade de hoje. E com razão.
Quantas produções antigas são racistas, machistas, homofóbicas e cheias de outros preconceitos que eram vistos e reproduzidos de forma natural na época em que foram lançadas? E não estamos falando daquelas que, de fato, traziam à tona essas questões justamente para serem discutidas e escancaradas. Não. Estamos falando da normatização do preconceito, da discriminação e da violência.
Uma das séries mais “problematizadas” hoje em dia é a icônica “Friends”, que foi ao ar entre 1994 e 2004 e alçou à fama nomes como Jennifer Aniston e David Schwimmer. Além do relacionamento tóxico entre Rachel e Ross (Jennifer e David), a personagem da Mônica adolescente (Courteney Cox), que aparecia em alguns episódios de flashback, sofria gordofobia por conta do seu peso. Além disso, o pai de Chandler (Matthew Perry), que trabalhava como Drag Queen em Las Vegas, era alvo de piada constante entre os amigos, bem como a ex-mulher de Ross, que se descobriu homosexual logo no início do seriado.
E quando se tratam de produções voltadas para o público infanto-juvenil, aí é ainda mais delicado.
Convenhamos que, até pouco tempo atrás, não havia muitas regras sobre o que podia ou não ser feito para crianças. Quem viveu os anos 90 sabe que os programas de televisão seriam impensáveis nos dias de hoje, repletos de mulheres semi-nuas e brincadeiras de cunho sexual em plena tarde de domingo.
Para tentar se adequar melhor aos tempos modernos, a plataforma de streaming Disney+ passou a realizar uma série de intervenções nas imagens e até cortes de cenas de desenhos/filmes antigos que não seriam apropriados.
No filme Splash – Uma Sereia em Minha Vida, de 1984, a atriz Daryl Hannah aparece de costas, nua, com as cabelos caindo pelas costas correndo em direção ao mar. A Disney tratou de alongar os cabelos da protagonista por meio digital para cobrir o que aparecia de suas nádegas. Em um dos episódios da série Os Feiticeiros de Waverly Place (2007-2012) o decote da atriz María Canals-Barrera é rabiscado digitalmente (e olha que nem é tão chamativo assim).
Já em Uma Noite de Aventuras (1987) e no documentário ganhador do Oscar Free Solo (2018) foram excluídas todas as menções à palavra fuck (“foder”) e substituídas por outras expressões. Na animação Lilo & Stitch, uma cena onde a menina se escondia dentro de uma máquina de lavar roupa teve o eletrodoméstico substituído por uma caixa de papelão para não passar a mensagem de que é seguro as crianças se esconderem num local desses.
Porém, em alguns casos a Disney optou por não mexer nas produções originais. Em Dumbo e A Dama e o Vagabundo, há o seguinte aviso na aba da sinopse: “Inclui imagens de consumo de tabaco. Este programa é oferecido conforme foi originalmente concebido. Pode conter referências culturais defasadas”.
De fato, muitos consumidores não gostaram de ver cenas modificadas ou cortadas dos seus clássicos favoritos. Afinal, com milhões de pessoas ao redor do mundo assistindo a esses conteúdos, é praticamente impossível que alterações assim passem despercebido.
E você, concorda com essa “autocensura” do Disney+ para se adequar à realidade de hoje ou acredita que, ao “editar” essas questões, é como dizer que esses erros nunca existiram?