A série “Round 6” (“Squid Game, em inglês), da Netflix, bateu recorde atrás de recorde desde o seu lançamento. Número um em 94 países, a violenta série sul-coreana foi a primeira a ultrapassar 140 milhões de espectadores.
Parece completamente irreal aceitar participar de um jogo onde, se você perder uma rodada, é morte na certa. Um jogo que não admite erros, dúvidas ou más escolhas. É acertar ou morrer. Ah, e mesmo após terem desistido do jogo em comum acordo, a grande maioria decidiu voltar para a disputa mesmo depois de terem passado da primeira etapa, onde viram dezenas dos competidores caírem mortos no chão com um tiro certeiro.
Apesar de ter um roteiro ficcional, a séries trouxe reflexões bastante reais sobre o mundo capitalista em que vivemos. Será mesmo que as pessoas têm o poder de escolha sobre seus próprios destinos? Como o capitalismo selvagem afeta a vida da grande maioria da população mundial que não está no topo da escala social?
No primeiro trimestre de 2021, o endividamento das famílias sul-coreanas atingiu 104,9% do Produto Interno Bruto (PIB). A maioria dos personagens que decide participar do jogo de vida ou morte está seriamente endividada – cada um por diferentes razões. E como as histórias dos personagens principais são baseadas na realidade?
Pobreza entre a população idosa
Tanto a mãe de Gi-hun (Lee Jung-jae) quanto de Sang-woo (Park Hae-seo), os dois amigos de infância que se reencontram dentro do jogo, ainda precisam trabalhar duramente mesmo já tendo passado da idade de se aposentarem. Uma delas, inclusive, tem problemas de saúde e não tem condições de arcar com os custos de uma internação hospitalar.
Essa é uma realidade da Coreia do Sul, onde 40% da população acima dos 65 anos vive em situação de pobreza. Uma das explicações para isso é que não havia um sistema público de previdência até 1988.
Imperialismo
A iminente chegada dos chamados “VIPs” gera grande expectativa no responsável por gerenciar o jogo. Homens brancos, ricos e de países ocidentais chegam mascarados para se divertirem assistindo aos participantes brigarem, matarem uns aos outros e morrerem de forma brutal nas etapas da “brincadeira”. Tudo isso enquanto são extremamente bem-tratados e desfrutam de um farto banquete, regado a bebida alcoólica da melhor qualidade e a companhia de homens e mulheres que estão à disposição, inclusive, para satisfação sexual.
Guerra da Coreia
A personagem Sae-byeok (Hoyeon Jung) é uma desertora da Coreia do Norte, que conseguiu escapar do país de governo ditatorial e tenta resgatar a mãe, que ainda está do outro lado da fronteira, e cuidar do irmão mais novo, que foi parar em um orfanato na Coreia do Sul. O pai morreu enquanto tentava fazer a travessia.
Sem ter de onde tirar dinheiro,Sae-byeok se afunda em dívidas para arcar com os custos dessa perigosa travessia de fronteiras e salvar sua mãe.
Em plena Guerra Fria, a Guerra da Coreia se deu por conta da divisão territorial na península, resultado da disputa entre União Soviética e Estados Unidos, entre 1950 a 1953.
Crise asiática de 1997
Demitido depois que a fábrica em que trabalhava 10 anos atrás passou por problemas financeiros, o protagonistaGi-hun nunca mais conseguiu se reerguer. Depois disso, Gi-hun tentou abrir seu próprio restaurante, que faliu, seguido por outro que teve o mesmo destino. Após anos de fracasso, o jeito foi pedir dinheiro emprestado para agiotas (e se colocar em grande perigo por conta disso).
Após viverem seus dias mais gloriosos, os países dos chamados tigres asiáticos (Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong e Cingapura) enfrentaram uma grave crise econômica a partir de 1997. O aumento da especulação, problemas no sistema bancário e outras questões deixaram consequências até os dias de hoje para as populações locais.