Na década de 1940, a Kodak, líder no mercado de fotografia da época, desenvolveu seu próprio sistema de calibração de cores. Na época, a maioria das pessoas que enviavam os negativos dos filmes para serem revelados em fotos coloridas eram brancas. Os anúncios da Kodak, inclusive, eram direcionados a homens, mulheres e famílias brancas. Por isso, a empresa precisava de um sistema de calibração criado para seu cliente “padrão” ao imprimir fotos, e aí que surge o “cartão Shirley”.
“Shirley” vem de Shirley Page, uma funcionária branca da Kodak nos anos 1950, que tinha cabelos castanhos e pele branca. A empresa decidiu, então, que a imagem de Shirley seria o padrão para uma fotografia bem calibrada em termos de luz e cor. Eles colocaram a imagem de Shirley em um cartão e adicionaram blocos de cores ao redor – vermelho, azul, amarelo e verde em um lado (geralmente no canto inferior esquerdo) e preto, branco e vários tons de cinza à direita.
A aparência de Shirley em comparação com as fotos de um cliente determinou se a luz e a cor foram calibradas corretamente. Ao longo dos anos, a Kodak criou vários Shirley Cards com diferentes “Shirleys”, mas todos eles tinham a mesma característica em comum: uma mulher branca.
Nesse período, os Estados Unidos passavam por um momento de extrema segregação racial. Os Shirley Cards acabaram por reforçar a mensagem (de forma intencional, ou não) de que o branco é o “normal”, e todos os outros tons de pele diferentes disso não eram tratados de forma justa nas fotos. Quanto mais escura a pele, menos visíveis ficavam os contornos e detalhes.
Foi só nos anos 80 que as coisas começaram a mudar com a invenção do Filme Kodak Gold Max. Essa linha se orgulhava de sua capacidade de capturar um “cavalo escuro em luz baixa”.
Finalmente, da década de 1990, a Kodak lançou um Shirley Card multirracial com três mulheres: uma asiática, uma branca e uma negra. Porém, a principal motivação para a mudança foi a pressão das indústrias de madeira e chocolate, que reclamavam que as fotos da Kodak não retratavam as cores escuras propriamente, e era difícil para os consumidores identificarem um chocolate ao leite de um meio-amargo nas fotografias.
Hoje em dia, com as câmeras digitais, o uso desses cartões já é totalmente desnecessário. O ajuste de cor pode ser feito por meio de programas de computador, e cada foto pode ser trabalhada individualmente.
Mas mesmo assim, ainda temos resquícios dessa mentalidade de “branco é o normal” em diversos setores, como sensores automáticos que não conseguem identificar pessoas com pele escura.