O impacto de programas de TV sensacionalistas na violência estrutural


Já diziam os sábios que violência gera violência. Essa máxima vale para qualquer outro cenário, inclusive para a influência que a mídia exerce sobre a sociedade.

Recentemente, alguns dos grandes veículos de imprensa do Brasil decidiram por não mais exibirem o nome e rosto de autores de ataques em escolas depois de sucessivos casos que ocorreram em uma sequência de poucos dias. Essa decisão é baseada em estudos que mostram que a exposição midiática pode aumentar a visibilidade das pessoas envolvidas em atos violentos, fazendo não só com que elas se sintam como heróis mas também influenciando outros a seguirem seu exemplo e ganharem seu cinco minutos de fama.

Nos Estados Unidos, algumas universidades e veículos de comunicação já adotam essa prática desde os anos 90, quando houve uma série de ataques a estudantes em escolas americanas. A decisão foi tomada com o objetivo de evitar a “glamourização” dos atiradores e impedir que eles se tornem ídolos para outros jovens.

Na TV aberta, muitos programas são extremamente sensacionalistas ao noticiarem crimes e tragédias. São horas e horas explorando cada detalhe à exaustão, escancarando a violência e o sofrimento dos envolvidos como se fossem capítulos de uma história de ficção. Repetidas vezes, durante tida a programação. Se espremer um pouco é capaz de pingar sangue da TV. Num país onde a televisão sempre foi um veículo forte em todas as camadas da sociedade (e é até hoje, mesmo que muita gente acredite que não), é preciso muito cuidado e responsabilidade com qualquer conteúdo que se passa nas telas e entra na casa das pessoas. Além do desconforto em quem assiste e da exploração do sofrimento alheio, esse tipo de programa pode exercer um impacto negativo na sociedade.

Em março de 2022, um adolescente de 14 anos matou três pessoas e feriu outras cinco em uma escola de São Paulo. Segundo a polícia, o jovem teria se inspirado em um dos programas de TV mais sensacionalistas do país, que mostra casos de violência e crimes hediondos e é conhecido por explorar a violência de forma exagerada, com imagens chocantes e linguagem agressiva.

Além da influência direta como nesse caso, a violência escancarada na mídia pode dessensibilizar o público, normalizando atos cruéis e tornando as pessoas menos sensíveis e menos propensas a perceberem os danos. Programas sensacionalistas também acabam por transmitir mensagens que justificam a violência ou a apresentam como uma solução para os problemas. Isso pode levar a uma cultura de violência, na qual ela é vista como uma resposta aceitável em situações conflituosas.

É uma questão complexa de lidar pois, no mundo capitalista, tudo gira em torno de um só objetivo: lucro. Infelizmente, muitas vezes o lucro vem antes da responsabilidade social e a ética. A TV aberta é um negócio, e programas sensacionalistas podem ser muito lucrativos para as emissoras. Afinal, é mais barato produzir um programa que vive de repetir imagens de crimes bárbaros, que chamam a atenção e aumentam a audiência, do que elaborar um programa educativo ou informativo que aborde temas mais complexos.

Para lidar com esse problema, é necessário que haja uma mudança na forma como a mídia aborda a violência. As emissoras de TV precisam assumir a responsabilidade social e ética pelo conteúdo que produzem e exibem. Os governos podem ajudar a regulamentar a produção e a exibição de programas sensacionalistas, mas cabe aos produtores e emissoras fazerem a sua parte.

É claro que a política de não divulgar nomes e imagens de criminosos envolvidos em atos violentos não é a solução final para o problema, mas pode ajudar a diminuir sua propagação. Além disso, é importante destacar que a imprensa tem um papel fundamental na conscientização da população sobre a violência e na cobrança por políticas públicas que combatam o problema.

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