Dê razões para cada cena do seu filme


As cenas que você coloca no seu filme não estão lá apenas para fazer volume (ou, pelo menos, não deveriam).

Cada cena tem uma razão de ser, e conferir os motivos que fazem a cena estar lá te ajuda a chegar cada vez mais perto do resulta esperado.

Uma dica que muitos cineastas para embasar o por que de cada cena existir tem a ver com a câmera em si. O truque é pensar na câmera como um elemento vivo, e não apenas um objeto passivo que está lá para captar algumas imagens.

Ao “dar vida” à câmera, as cenas ficam muito mais interessantes e conseguem transmitir ao espectador as sensações e sentimentos que se pretendem com mais facilidade e assertividade.

Para isso, imagine a câmera como uma criança curiosa.

O que uma criança curiosa costuma fazer em um lugar novo? Ela vai olhar para todos os lados tentando entender que ambiente é aquele, se aproximar de algo que lhe chamar atenção, observar um objeto por alguns segundos antes de decidir se gosta ou desgosta, explorar o cenário.

Perceba que esses comportamentos são, de fato, atitudes, ou seja, a câmera deve adquirir uma postura ativa perante a cena.

Em uma determinada cena de “The Asylum Groove”, o personagem começa a dançar sozinho em uma sala segurando o esfregão de chão, de repente. Por alguns segundos, a câmera continua parada na posição que estava para, então, seguir para um close e, depois, acompanhar os passos do homem. E por que a câmera não fez nenhum movimento assim que a dança começou?

Ora, foi pega de surpresa, não? Como uma criança curiosa reagiria? Provavelmente, ela ficaria observando aquela atitude inesperada por alguns segundos antes de decidir tomar uma ação. Depois que sua curiosidade foi atiçada, ela quer ver o homem melhor e vai mais a fundo observar seu rosto e seus movimentos.

Outro exemplo se dá quando o ambiente daquela cena é apresentado num primeiro momento. O espectador não vê tudo de uma vez. São apresentadas uma série de close-ups, o que não nos deixa ver o cenário por completo. Como a criança, a câmera nem sempre releva toda a verdade num primeiro momento. Ela nos induz a pensar por um caminho, e depois nos é relevado outro. Um truquezinho do bem que confunde e instiga o espectador 😉

Em uma outra cena, o personagem aparece, de repente, sentado em uma cadeira elétrica. Assim como uma criança que foi pega no susta, a câmera tentar “entender” o que está acontecendo. Nesse momento, vemos também uma série de close-ups das mãos amarradas e correntes. Conforme a “criança” começa a juntar o quebra-cabeça e compreender o que está acontecendo, a cena vai abrindo até que conseguimos ver por completo o homem sentado em uma cadeira elétrica.

Perceba como a forma com que a câmera se comporta a cena é diferente do que se apenas estivesse posicionada no “ângulo certo”. Ao se comportar como um elemento vivo, a câmera leva o espectador junto a cada frame, descobrindo juntos aquela história, e atuado como parte importante na hora de conduzir ou desviar a audiência da linha de pensamento do filme a fim de surpreender.

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