A incrível cinematografia de “Parasita”

cinematografia de parasita

A incrível cinematografia de “Parasita”

Parasita ganhou o Oscar 2020 de Melhor Filme e outros vários prêmios desde o lançamento. E não é à toa. Além da temática da diferença entre classes, que sempre rende uma boa história, as técnicas de filmagem e movimentos de câmera transformaram o longa em uma obra-prima.

[ALERTA SPOILER]

Durante a primeira parte do filme, quase não é possível notar os sutis movimentos de câmera em zoom in, a não ser que você acelere o vídeo. Ao invés de trabalhar com variações de planos, o diretor Bong Joon-ho usa essa técnica de aproximar, lentamente, a câmera da cena, dando a sensação de progressão em direção a algo.

Quando a família Kim atinge seu objetivo de se instalarem todos na casa dos Park, esse movimento de aproximação da câmera praticamente para, só acontecendo de vez em quando para enfatizar momentos pontuais.

Ao contrário de muitos filmes de Hollywood, onde as cenas são sempre cheias de cortes e ângulos, Bong Joon-ho aposta em uma estratégia diferente. Os takes são mais longos, mas o telespectador não sente nenhum tipo de marasmo porque eles não são estáticos: em um único take, o movimento de câmera navega entre os planos geral, médio e close-up sem cortes.

Veja como exemplo a cena abaixo, quando o Sr. Park conversa na cozinha com sua esposa. Em um determinado momento, ele se levanta e caminha para a esquerda, em direção à lata de lixo. A câmera acompanha esse movimento, porém, enquanto ele começa a voltar para a mesa, a câmera continua se movendo para a esquerda, revelando a filha do Sr. Kim escutando a conversa na escada.

Esse recurso do movimento de câmera ao longo do ambiente também é usado para mostrar a diferença entre as casas e as vidas das duas famílias. Dentro da mansão dos Park, a câmera passeia pelo ambiente acompanhando os moradores, mostrando o espaço amplo e liberdade que aquelas pessoas têm. Já as cenas na casa dos Kim é sempre mais fechada e com pouco movimento, refletindo o local pequeno e apertado em que vivem. Porém, ao passo que os membros da família Kim passam a trabalhar na casa dos mais abastados e a experimentar uma outra vida, o trabalho de câmera adquire mais movimento e complexidade.

Quando o filme chega em seu ápice, na cena da festa na casa dos Park, o movimento de câmera perde aquele aspecto uniforme e as composições ficam mais variadas em um mesmo take.

Outro elemento que pode passar despercebido pelo público mas que causa um efeito impressionante é a “linha” imaginária que está sempre separando os Park dos Kim. Em diversos takes onde aparece um membro de cada família na mesma cena, há uma espécie de linha visual entre eles, seja ela formada por uma parede, um quadro ou uma porta de vidro.

Esse recurso conversa perfeitamente com dois momentos que, não parecem, mas são extremamente importantes. O primeiro é quando o Sr. Park comenta com o Sr. Kim sobre a antiga governanta, que fazia um bom trabalho e nunca “cruzava a linha” do aceitável. Em outro momento, o milionário tem o mesmo tipo de diálogo com sua esposa, mas dessa vez sobre o Sr. Kim, que está sempre perto de cruzar a linha, mas nunca o fez – exceto o seu cheiro. Como sabemos, essa questão do cheiro foi a “cereja do bolo” para a violência no final do filme.

Receba nossos artigos!
Nós respeitamos sua privacidade.